terça-feira, 13 de julho de 2010

Música no Underground

foto: busker (guardian.co.uk)

Olá pessoal! Antes de mais nada, quero esclarecer uma coisa: Underground é como se chama o metrô aqui em Londres – logo, esta matéria (ainda) não é sobre a cena musical underground da cidade, mas sim sobre a música feita embaixo da terra – literalmente - , nas estações do metrô.

O metrô londrino possui a maior malha ferroviária do mundo. Aqui, de metrô, você pode ir de qualquer lugar pra qualquer lugar. As 11 linhas têm um incontável número de estações, um intervalo entre trens curtíssimo e muitas (milhares de) pessoas que utilizam este meio de transporte diariamente.

Isso que nos faz pensar: “por que não sentar numa dessas estações e tocar alguma coisa, pra ganhar um dinheiro?”. De fato, os buskers (como são chamados os músicos e cantores itinerantes por aqui) fazem isso desde 1863! E, aparentemente, pode-se conseguir por volta de 100 libras por dia de trabalho. (fonte: bluebus.com.br)

Mas, feliz ou infelizmente, não é só chegar com um banquinho, um instrumento e boa vontade na estação e começar a tocar. A atividade, depois de proibida por um período, foi legalizada (e fiscalizada) pela empresa que administra o metrô (a Transport For London / TFL) sob o projeto de uma empresa de cervejas que o cedeu e, em troca, ganhou um ótimo espaço para propaganda de seus produtos. Desta forma, somente músicos autorizados podem se apresentar nas estações do metrô londrino.

Para se tornar um busker autorizado, é necessário fazer uma audição, onde uma banca examinadora irá avaliar a aptidão musical e o repertório do candidato. Como o número de músicos é restrito (263 atualmente), é necessário deixar o nome numa lista de espera – o que pode ser feito enviando um e-mail para: busking@tube.tfl.gov.uk.

O músico autorizado recebe um crachá que atesta esta condição e deve se apresentar com o mesmo sempre à vista. Nas estações, há lugares específicos, demarcados no chão com um adesivo em forma de um pequeno palco, onde o músico deve permanecer durante sua performance.

O intuito dos organizadores é evitar que pedintes sejam misturados aos verdadeiros artistas, além de garantir um alto nível musical, tanto quanto à execução (técnica e musicalidade) quanto ao tipo de repertório.

Eu, particularmente, já tive o prazer de ouvir ótimos artistas, de todos os gêneros musicais imagináveis: um cowboy com seu violão folk cantando música country, um senhor com um tambor étnico e uma voz poderosa cantando músicas africanas, uma linda oriental tocando melodias tocantes em sua flauta e, para meu espanto – e de muitos outros transeuntes – um outro senhor tocando uma harpa. Sim, eu disse harpa!

Segundo o site da TFL (tfl.co.uk), muitos artistas que se apresentam no metrô têm atraído atenção da mídia, e são regularmente convidados a se apresentar em eventos ou participar de sessões de gravação, ou ainda a trabalhar com músicos de renome, como Simply Red.

Ainda segundo o site da empresa, artistas famosos na Inglaterra já se apresentaram no metrô, como The Libertines, Julian Lloyd-Webber, Badly Drawn Boy e Seasick Steve entre outros.

Como se pode notar, apesar da burocracia para conseguir exercer uma atividade artística que é um símbolo da liberdade (que músico nunca sonhou rodar o mundo tocando só para garantir a subsistência?), tornar-se um busker no metrô de Londres pode ser bem vantajoso para o artista. Para o público, com certeza, sempre é – me lembro até hoje da cena lamentável no metrô de Paris: um grupo de pessoas vestidas como ciganos cantando e tocando com uma criança de peito no colo, tentando conseguir a simpatia do público pela misericória, e não pelo talento.


Um grande abraço!

Robson Ribeiro


robsonsky@gmail.com